11/08/2007

Cântico negro



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio
, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

José Régio

Caetano Veloso - Mora Na Filosofia

Eu vou lhe dar a decisão

Botei na balança e você não pesou

Botei na peneira e você não passou

Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor

Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor

 

Se seu corpo ficasse marcado

Por lábios ou mãos carinhosas

Eu saberia ora, vai mulher

A quantos você pertencia

Não vou me preocupar em ver

Seu caso não é de ver pra crer

Tá na cara!

"Qualquer dedução ou afirmação é passível de réplicas !"
"A desobediência é uma virtude necessária à criatividade."
Raul Seixas
Elis Regina - Vou deitar e Rolar
 
Não venha querer me consolar
Que agora não dá mais pé
Nem nunca mais vai dar
Também quem mandou se levantar
Quem levantou pra sair
Perde o lugar
 
E agora, cadê teu novo amor
Cadê que ele nunca funcionou
Cadê que nada resolveu
 
Quaquaraquaquá, quem riu
Quaquaraquaquá, fui eu
Quaquaraquaquá, quem riu
Quaquaraquaquá, fui eu
 
Ainda sou mais eu
 
Você já entrou na de voltar
Agora fica na tua
Que é melhor ficar
Porque vai ser fogo me aturar
Quem cai na chuva
Só tem que se molhar
 
E agora cadê, cadê você
Cadê que eu não vejo mais, cadê
Pois é quem te viu e quem te vê
 
Todo mundo se admira da mancada que a Terezinha deu
Que deu na pira
E ficou sem nada ter de seu
Ela não quis fazer fé
Na virada da maré
Breque
 
Mas que malandro sou eu
Pra ficar dando colher de chá
Se eu não tiver colher, vou deitar e rolar
 
O vento que venta aqui
É o mesmo que venta lá
E volta pro mandingueiro
A mandinga de quem mandigá

05/08/2007

"A vida é como jogar uma bola na parede :

Se for jogada uma bola azul, ela voltará azul
Se for jogada uma bola verde, ela voltará verde;

Se a bola for jogada fraca, ela voltará fraca;
Se a bola for jogada com força, ela voltará com força.

Por isso, nunca "jogue uma bola na vida"

de forma que você não esteja pronto a
recebê-la.

A vida não dá nem empresta;
não se comove nem se apieda.

Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir
aquilo que nós lhe oferecemos"
 
Albert Einstein