22/12/2007

Morrer de amar não é o fim, mas me acabo...
Djavan - Ferrugem

Mera luz
que invade a tarde cinzenta
e algumas folhas deitam
sobre a estrada

O frio é o agasalho
que esquenta
O coração gelado
quando venta
movendo a água
abandonada

Restos de sonhos
sobre um novo dia
amores nos vagões
vagões nos trilhos
Parece que quem parte
é a ferrovia
Que mesmo não te vendo te vigia
Feito mãe
Feito mãe
que dorme olhando os filhos
com os olhos na estrada
E no mistério
solitário da penugem
vê-se a vida correndo parada
como se não existisse chegada
Na tarde
distante
Ferrugem
ou nada

E no mistério
solitário da penugem
vê-se a vida correndo parada
como se não existisse chegada
Na tarde
distante
Ferrugem
ou nada

21/12/2007

Djavan - A Rota do Indivíduo

Mera luz que invade a tarde cinzenta
E algumas folhas deitam sobre a estrada
O frio é o agasalho que esquenta
O coração gelado quando venta
Movendo a água abandonada
Restos de sonhos sobre um novo dia
Amores nos vagões, vagões nos trilhos
Parece que quem parte é a ferrovia
Que mesmo não te vendo te vigia
Como mãe, como mãe que dorme olhando os filhos
Com os olhos na estrada
E no mistério solitário da penugem
Vê-se a vida correndo, parada
Como se não existisse chegada
na tarde distante, ferrugem ou nada.
Djavan - Acelerou

Ando tão perdido em meus pensamentos
Longe já se vão os meus dias de paz
Hoje com a lua clara brilhando
Vejo que o que sinto por ti é mais

Quando te vi, aquilo era quase o amor
Você me acelerou, acelerou, me deixou desigual
Chegou pra mim, me deu um daqueles sinais
Depois desacelerou e eu fiquei muito mais

Sempre esperarei por ti, chegue quando
Sonho em teus braços dormir, desçansar
Venha e a vida pra você será boa
Cedo que é pra gente se amar a mais

Muito mais perdido, quase um cara vencido
À mercê de amigo ou coisa que o valha
Você me enlouquece, você bem que merece
'inda me aparece de minissaia

Sério, o que eu vou fazer, eu te amo
Nada do que é você em mim se desfaz
Mesmo sem saber o teu sobrenome
Creio que te amar é pra sempre mais
Por ser exato
O amor não cabe em si
Por ser encantado
O amor revela-se
Por ser amor
Invade
E fim!!...

Djavan - Pétala
Djavan - Milagreiro

Agora vamos ter os girassóis
do fim do ano
e o calor vem desumano
tudo irá se expandir
crescer com as águas
quiçá, amores nos corações
e um santeiro,
milagreiro
prevê a dor
de terceiros
e diz que a vida
é feita de ilusão
e um santeiro,
milagreiro
prevê a dor
de terceiros
e diz que a vida
é feita de ilusão
aquela que um dia o fez sonhar
se foi com o outro
no dia em que os dois
se casariam por amor
ele aluou
hoje o seu pesar
cintila nos varais
usou as sete vidas
e não foi feliz jamais
toda a imensidão
passou pela vida
e foi cair na solidão
mais um santo para esculpir é o que lhe vale
pra evitar que o rancor suas ervas se espalhe
Djavan - Oceano

Assim
Que o dia amanheceu
Lá no mar alto da paixão,
Dava prá ver o tempo ruir
Cadê você?
Que solidão!
Esquecera de mim?

Enfim,
De tudo o que
Há na terra
Não há nada em lugar
Nenhum!
Que vá crescer
Sem você chegar
Longe de ti
Tudo parou
Ninguém sabe
O que eu sofri...

Amar é um deserto
E seus temores
Vida que vai na sela
Dessas dores
Não sabe voltar
Me dá teu calor...

Vem me fazer feliz
Porque eu te amo
Você deságua em mim
E eu oceano
E esqueço que amar
É quase uma dor...

Só sei viver
Se for por você!
Djavan - Numa Esquina de Hanói

Um é par de dois
Quer ver verás irei a ti pra viver
Depois morrer de paz ou não...
Quem sabe saberá?
Ficarei sabedor
Se você temperou no sal
Ou se... Salobro nós
Me atiro cívico
Aos meus amigos-de-varar-a-noite
Trazás nó-cego dirás
E eu rirei pecador
No que corará mais
E de cor entregarás
A minha alma viva
E depenada para o satanás
Que enfim, quiçá, lhe trai
indiferente a mim
Que não lhe significa nada mais
Do que um lobo atroz
Perdido numa esquina de Hanói
Djavan - Flor de lis

Valei-me Deus, é o fim do nosso amor
Perdoa por favor, eu sei que o erro aconteceu
Mas não sei o que fez tudo mudar de vez
Onde foi que eu errei
Eu só sei que amei, que amei, que amei, que amei
Será, talvez, que minha ilusão
Foi dar meu coração com toda força
Prá essa moça me fazer feliz
E o destino não quis
Me ver como raiz de uma flor de lis
E foi assim que eu vi nosso amor na poeira, poeira
Morto na beleza fria de Maria
E o meu jardim da vida ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria
Nem margarida nasceu
Djavan - Te Devoro

Teus sinais
Me confundem
Da cabeça aos pés
Mas por dentro
Eu te devoro
Teu olhar
Não me diz exato
Quem tu és
Mesmo assim
Eu te devoro...

Te devoraria
A qualquer preço
Porque te ignoro
Te conheço
Quando chove ou
quando faz frio
Noutro plano
Te devoraria
Tal Caetano
A Leonardo di Caprio...

É um milagre
Tudo que Deus criou
Pensando em você
Fez a Via-Láctea
Fez os dinossauros
Sem pensar em nada
Fez a minha vida
E te deu
Sem contar os dias
Que me faz morrer
Sem saber de ti
Jogado à solidão
Mas se quer saber
Se eu quero outra vida
Não! Não!

Eu quero mesmo é viver
Prá esperar, esperar
Devorar você..

Meu viver
É esperar você!

16/12/2007

EU PERDOARIA DEUS...

Sabe aquela foto que tem uma criança negra, hipermagra, quase morrendo de fome e sendo observada de perto por um urubu? Aquela foto que deu prêmios ao fotógrafo e não sei se deu alguma esperança de salvação para a criança? Pois bem, eu perdoaria deus por aquilo se ele não fosse onisciente.
Vi no Discovery channel que existe um tipo de fungo que se aloja dentro da cabeça de algumas formigas. Lá eles vão crescendo e a formiga começa a ficar maluca, totalmente desnorteada. Daí as outras formigas percebem e afastam o mais que podem a colega infectada do formigueiro porque se ela permanecer no grupo todo o formigueiro será exterminado. Então o fungo atinge um crescimento tal que a cabeça da formiga é furada de dentro pra fora e o fungo sai “plantado” nela como tentáculos, só depois de algum tempo a formiga morre. Eu perdoaria deus por isso se ele não fosse onipotente.
Você sabia é claro, que existiu mais de um lugar chamado Campo de Extermínio onde durante a Segunda Guerra Mundial milhões de pessoas - homens, mulheres, velhos e crianças - foram torturados das mais diversas formas, humilhados das mais diversas e requintadas maneiras e mortos de uma forma tão organizada e eficiente que lembra verdadeiras linhas de montagem de matar pessoas. Pois bem, eu perdoaria deus por isso se ele não fosse onipresente.
Uma mãe passarinha se coloca na frente do veneno de uma cobra, afasta-se do lugar o mais que pode e depois até se deixa picar para desviar a serpente de seu ninho e salvar seus ovos ou filhotes. Um industrial alemão chamado Schindler, horrorizado com o que estava acontecendo em seu país, usou seu dinheiro, sua influência e sua capacidade de argumentação para salvar dezenas de judeus dos “chuveiros”. Uma ursa se fecha em uma caverna onde passa todo o inverno sem se alimentar e de onde sai quase morta na chegada da primavera porque esteve todo esse tempo amamentando, protegendo e aquecendo seus filhotes. Deus não faz nada disso, mesmo sendo bondoso, imortal, onipotente, onisciente e onipresente.
Alguém me dirá então que a passarinha foi guiada por deus para assim agir e salvar seus filhotes, que deus “usou” Schindler para salvar aqueles judeus da morte, que foi deus quem deu forças à ursa para que ela pudesse alimentar seus filhotes até que chegasse a primavera e eles estivessem crescidos o suficiente para sair da toca e conhecer o mundo. Dirão que “não se moverá uma folha em uma árvore se deus assim não quiser”... TUDO que acontece, acontece porque deus quer, dirão.
Deus quer então que muitos filhotes e ovos de passarinho sejam encontrados e mortos pelas serpentes, por que salvar apenas alguns? Deus queria que milhões de pessoas fossem mortas nas câmaras de gás nazistas, por que salvar apenas alguns poucos? Deus queria que ursa e filhotes fossem atacados e mortos por predadores ou caçadores assim que saíssem da caverna no comecinho da primavera. Por que então exigir tanto sacrifício da pobre mãe semimorta de desnutrição? Eu perdoaria deus por tudo isso se ele não fosse todo poderoso.
Sim, eu perdoaria deus pelos males que existem no mundo se ele não fosse tão poderoso quanto os religiosos dizem que ele é. Se ele tivesse criado o mundo estando sujeito às diversas leis que obrigam os seres vivos a se matarem e se devorarem num banho de sangue eterno, então eu o perdoaria.
Se eu pudesse saber que deus não estava presente em alguns lugares e em alguns momentos da história porque ele não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, eu o perdoaria. Se eu soubesse que ele não tem como conhecer o que vai na cabeça e no coração de todas as pessoas e não tem como conhecer o futuro próximo ou distante e por isso não interfere na vida de pessoas animais ou plantas de forma a evitar grandes catástrofes, eu o perdoaria.
Se de alguma forma eu pudesse saber que no caso de calamidades de grandes proporções, causadas pela natureza ou pelos homens, deus não consegue salvar mais do que algumas vidas mesmo querendo e desejando muito salvar a todos e até evitar que a catástrofe aconteça, aí, sem dúvida nenhuma, eu o perdoaria.
E se eu soubesse que deus não tem como evitar que nasçam seres vivos, humanos ou não, com defeitos graves como aleijões, deformações genéticas ou deficiências mentais e não tivesse nenhum poder para evitar a existência de doenças graves como o câncer, a aids ou a velhice, com certeza nesse caso eu o perdoaria.
Verdade, se deus não fosse aquele ser tão poderoso, grandioso e incrível que durante a vida toda tentaram me fazer crer que ele é, não só eu poderia perdoá-lo como ainda teria muita pena, muito carinho e muito, muitíssimo amor por ele.

Divina de Jesus Scarpim

03/12/2007

Eu vejo as árvores verdes, rosas vermelhas também
Eu as vejo florescer para nós dois
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso

Eu vejo os céus azuis e as nuvens brancas
O brilho do dia abençoado, a sagrada noite escura
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso

As cores do arco-íris, tão bonitas nos céus
E estão também nos rostos das pessoas que passam
Vejo amigos apertando as mãos, dizendo: "como você vai?"
Eles realmente dizem: "eu te amo !"
Eu ouço bebês chorando, eu os vejo crescer
Eles aprenderão muito mais que eu jamais saberei
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso
Sim, eu penso comigo... que mundo maravilhoso
Como Nossos Pais

Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina, na rua
É que se fez, o seu braço
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pr'o sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como Os Nossos Pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como Os Nossos Pais...

Elis Regina - Como nossos pais

02/12/2007

"O medo mora perto das idéias loucas."
ATÉ AMANHÃ...

Desde o começo até a metade
Durante o percurso já sabendo o final

Dos primeiros passos aos últimos mitos
Dos primeiros atos aos últimos gritos

Uma contradição – Um vício sem razão
Uma contradição – Os dias que virão

O amanhã será talvez - O amanhã será talvez

As meias-verdades / As meias mentiras
Tudo igual tudo tão normal

A última gota – A última ceia
A última ponta – A última veia

Uma contradição – Um vício sem razão
Uma contradição – os dias que virão

O amanhã será talvez - O amanhã será talvez

ATÉ AMANHÃ – ATÉ AMANHÃ
ATÉ AMANHÃ QUE SERÁ TALVEZ
O TEMPO É CIRCULAR – O TEMPO É CIRCULAR
ATÉ AMANHÃ DE MANHÃ DE NOVO

Até que se apaguem as luzes do Natal
Até o início do outro Carnaval

O amanhã será talvez - O amanhã será talvez

ATÉ AMANHÃ – ATÉ AMANHÃ
ATÉ AMANHÃ QUE SERÁ TALVEZ
O TEMPO É CIRCULAR – O TEMPO É CIRCULAR
ATÉ AMANHÃ DE MANHÃ DE NOVO

Astronautas - Até amanhã
A ERA MODERNA
(os sonhos nascem do marketing)

Desde a idade da pedra a era moderna a raça humana ainda é o que era
A evolução da espécie não foi tão grande assim
É fácil perceber - olhe pra você e pra mim

Tudo o que você quer -Tudo o que você viu
Tudo o que você sonhou - Por tudo o que você sorriu
Sua vida inteira foi gravada na memória inicial

“OS SONHOS ? OS SONHOS NASCEM DO MARKETING !!!”

TODOS OS MEUS SONHOS NASCEM DA TV
TODOS OS MEUS SONHOS NASCEM DA TV
TODOS OS MEUS SONHOS NASCEM DA TV
TODOS OS SEUS TAMBÉM

Desde a idade dos metais até os tempos atuais
Dinheiro é vício e faz dos homens meros animais

Tudo o que você quer - Tudo o que você viu
Tudo o que você sonhou - Por tudo o que você sorriu
Sua vida inteira foi gravada na memória inicial

“OS SONHOS ? OS SONHOS NASCEM DO MARKETING !!!”

TODOS OS MEUS SONHOS NASCEM DA TV
TODOS OS MEUS SONHOS NASCEM DA TV
TODOS OS SEUS SONHOS NASCEM DO QUE VÊ
TODOS OS MEUS SONHOS NASCEM DA TV
TODOS OS SEUS TAMBÉM

Astronautas - A era moderna
DO ÚTERO ATÉ O FIM

Não quero mais que o mundo gire tão devagar
Não quero mais que o tempo demore a passar
Explodem bombas e os carros passam
E nós aqui assistindo pela TV
Só mais um dia, cotidiano
Desse mundo que ninguém quer ver

Pessoas chegam e outras partem sem acenar
Pessoas partem e outras chegam sem avisar - (Vem e Vão)
Caçando as bruxas e enterrando os maus pensamentos
Metade bom / Metade ruim – Nós somos assim – (Sim)

ATÉ O FIM - ATÉ O FIM - ATÉ O FIM - NÓS SOMOS ASSIM
DESDE O ÚTERO ATÉ O FIM

Quem sabe assim um dia em posso lhe acompanhar
E agora enfim, o tempo vai passar devagar
Eu sei que vai passar

ATÉ O FIM - ATÉ O FIM - ATÉ O FIM - NÓS SOMOS ASSIM
DESDE O ÚTERO ATÉ O FIM

ATÉ O FIM - ATÉ O FIM - ATÉ O FIM – O MUNDO É ASSIM
DESDE O ÚTERO ATÉ O FIM

Astronautas - Do útero até o fim
AMÉM, CIDADÃO

Pague 1 real para se salvar
Pague um pouco mais para aprender
Pague muito mais para se curar
Pague tudo o que você quiser pagar

Pague – Pague com o coração
Pague sempre, cidadão
Taxas de conservação
Taxas para a salvação

AMÉM !
AMÉM !
AMÉM !

Pague 1 real para se salvar
Pague sempre, cidadão
Pague muito mais para se curar
Taxas para a salvação

AMÉM !
AMÉM !
AMÉM !

Astronautas - Amém, cidadão
OS ASTRONAUTAS

Depois do avanço espacial
E da corrida pelo capital
Com seu discurso inflamado reproduzido no jornal
O mundo todo pode ver que...

OS ASTRONAUTAS PEGAM FOGO E FLUTUAM PELO AR!
OS ASTRONAUTAS PEGAM FOGO E FLUTUAM PELO AR!

Um pequeno passo para o homem – Um grande passo para a humanidade
Espero que vocês desse planeta não permitam que ele derreta
Pois aqui de cima é tudo azul – Aqui de cima é tudo azul
Aí embaixo é outra estória

OS ASTRONAUTAS PEGAM FOGO E FLUTUAM PELO AR!
OS ASTRONAUTAS PEGAM FOGO E FLUTUAM PELO AR!
OS ASTRONAUTAS PEGAM FOGO E FLUTUAM PELO AR!
OS ASTRONAUTAS PEGAM FOGO E FLUTUAM PELO AR!

Astronautas - Os astronautas
TEMPO PRA ACERTAR

Há dias que não posso ver
Há dias que não posso entender
Tem muitas coisas nesse mundo que são mesmo difíceis de compreender

As respostas que eu posso ter
E as perguntas que não posso responder
O mundo é mesmo preto-e-branco
Manchado de sangue, dinheiro e ódio

SE OS DIAS PASSAM DEVAGAR – HÁ A VIDA INTEIRA PRA TENTAR
SE OS DIAS PASSAM DEVAGAR – MAIS 1 MINUTO PRA TENTAR

O rock não pode parar
Isso eu já cansei de escutar também
As pedras rolam morro abaixo e nem sempre rolam muito devagar

Deus não joga dados com o mundo
Não importa nem que Deus e nem que mundo
O que importa é que vida inteira pode mudar toda bem nesse segundo

SE OS DIAS PASSAM DEVAGAR – HÁ A VIDA INTEIRA PRA TENTAR
SE OS DIAS PASSAM DEVAGAR – NÓS TEMOS TEMPO PRA ACERTAR

Astronautas - Tempo para acertar
...DE ZERO A 100

Acelerar a todo o vapor por essa vida-liquidificador
Tudo isso aqui é uma estrada longa e sem a sinalização

“Aperte o cinto e escolha a sua direção”

PODE ACELERAR PRA QUALQUER LUGAR
O QUE IMPORTA É IR DE ZERO A 100

O que passou, passou
Pelo retrovisor ficou pra trás

Todos os erros – Todos os vícios
Todos os dias – E o que não importa mais

“O mundo é rápido demais”

PODE ACELERAR PRA QUALQUER LUGAR
O QUE IMPORTA É IR DE ZERO A 100

Astronautas - ... de zero a 100
BRAZILIA

Crise? criso to eu com aquela grana que eu to perdendo porra !

Tirar as migalhas de pão de milhares de bocas, de barriga vazia
Isso é muito fácil – Isso é o dia-a-dia
Brazilia

Fazer um bocado de acordos e milhões de promessas – Tudo sem muita pressa
Isso é o que interessa – Isso é o dia-a-dia
Brazilia

Ah Ah Ah !!! - O POVO QUER FALAR
Ê – Ê – Ê !!! - O POVO QUER DIZER
QUE NÃO VAI MAIS ACREDITAR EM BRAZILIA

Não falo da arquitetura, nem dos dias de luta
Do povo que trabalha feito filha da puta
Dando o seu próprio sangue
Brazilia

Nem posso fazer poesia, nem usar as palavras de maneira macia
O concreto já rachou há tempos
Brazilia

Ah Ah Ah !!! O POVO QUER FALAR
Ê – Ê – Ê !!! O POVO QUER DIZER
QUE NÃO VAI MAIS ACREDITAR EM BRAZILIA

Astronautas - Brazilia
COMPUTADORES IDIOTAS

Quando eu penso nas coisas que falei – E em outras tantas que errei
Só me lembro que ao reiniciar estarei em outro lugar
Um lugar onde os computadores não vão nunca chegar
Se o homem pode ser a máquina perfeita eu só vejo:

COMPUTADORES IDIOTAS
COMPUTADORES IDIOTAS
COMPUTADORES IDIOTAS
COMPUTADORES IDIOTAS

E quando penso no tempo que perdi – E outros tantos que esqueci
Só me lembro que estamos aqui juntos – Contagem Regressiva
Pra um lugar onde os computadores não vão nunca chegar
Se o homem diz que é a máquina perfeita, eu só vejo:

COMPUTADORES IDIOTAS
COMPUTADORES IDIOTAS
COMPUTADORES IDIOTAS
COMPUTADORES IDIOTAS

Astronautas - Computadores idiotas
É AMIGOS,

Há muito tempo
O amor é vendido em estabelecimentos comerciais, como:
Livrarias, bares, restaurantes, igrejas, lojas de conveniência, sexs shops, entre outros...

Há muito tempo
O amor é vendido em sacos plásticos embalados à vácuo e encontrado nas prateleiras das redes de supermercados, com data de fabricação, prazo de validade e serviço de atendimento ao consumidor

As pessoas se distanciaram, congelaram, secaram por dentro,
construíram grandes muros em torno de si mesmos

Os amores não são mais os mesmos
A poesia da vida foi esquecida

Agora o mundo é cada vez mais frio, seco, calculado, mecânico, previsível
Como o processo industrial que sufocou o artesanal
Como o idealismo transformado em apatia

O mundo não é mais como foi um dia

- É amigos, os tempos românticos se foram

- O AMOR ACABOU!

Astronautas - É Amigos

24/11/2007

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa
Mägo de Oz - La Canción de los Deseos

Hoy al ver la televisión como siempre ahí estás tú
luchando por conseguir llegar a la tierra de la felicidad

Están haciendo que entre los dos hagamos muros de rencor
y así nunca conocernos tú y yo

Me pregunto que podemos hacer, es tan difícil olvidar
quiero ser, si estás junto a mí, el primero en perdonar

Hoy quiero creer en un futuro que no sea tan cruel
y quizás dejar a nuestros hijos un mundo de paz


Se que no puede ser verdad la verdad de un dios tan ruin
que consiente el poder matar inocentes a su voluntad

Creo que ha llegado ya la hora de enterrar
a esos dioses que han hecho tanto mal

Me pregunto qué podemos hacer, es tan difícil olvidar
quiero ser si estás junto a mí el primero en perdonar

Hoy vuelvo a creer en un futuro que no sea tan cruel
y poder dejar a nuestros hijos en un mundo de paz

23/11/2007

Hoje que a tarde é calma e o céu tranqüilo

Hoje que a tarde é calma e o céu tranqüilo,
E a noite chega sem que eu saiba bem,
Quero considerar-me e ver aquilo
Que sou, e o que sou o que é que tem.
Olho por todo o meu passado e vejo
Que fui quem foi aquilo em torno meu,
Salvo o que o vago e incógnito desejo
Se ser eu mesmo de meu ser me deu.

Como a páginas já relidas, vergo
Minha atenção sobre quem fui de mim,
E nada de verdade em mim albergo
Salvo uma ânsia sem princípio ou fim.

Como alguém distraído na viagem,
Segui por dois caminhos par a par
Fui com o mundo, parte da paisagem;
Comigo fui, sem ver nem recordar.

Chegado aqui, onde hoje estou, conheço
Que sou diverso no que informe estou.
No meu próprio caminho me atravesso.
Não conheço quem fui no que hoje sou.

Serei eu, porque nada é impossível,
Vários trazidos de outros mundos, e
No mesmo ponto espacial sensível
Que sou eu, sendo eu por `'star aqui ?

Serei eu, porque todo o pensamento
Podendo conceber, bem pode ser,
Um dilatado e múrmuro momento,
De tempos-seres de quem sou o viver ?

Fernando Pessoa
O Andaime

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!
Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.

A 'sp'rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha 's'prança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam - verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças -
Mortas, porque hão de morrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim -
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser - muro
Do meu deserto jardim.

Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

Fernando Pessoa
Não: não digas nada!

Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.

És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.

Fernando Pessoa
Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro,
faz bem só pensar em ver
seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(se ela estivesse deitada)
dois montinhos que amanhecem
sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
assenta em palmo espalhado
sobre a saliência do flanco
do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gnomo.
Meu Deus, qusndo é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa
Contemplo o lago mudo

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Fernando Pessoa
Estrelas

Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo…
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir…

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão –
Qualquer coisa assim
Como um perdão?

Fernando Pessoa
Natal
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Stou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Fernando Pessoa

15/11/2007

Depois da Feira

Vão vagos pela estrada,
Cantando sem razão
A útima esp'rança dada
À última ilusão.
Não significam nada.
Mimos e bobos são.
Vão juntos e diversos
Sob um luar de ver,
Em que sonhos imersos
Nem saberão dizer,
E cantam aqueles versos
Que lembram sem querer.

Pajens de um morto mito,
Tão líricos!, tão sós!,
Não têm na voz um grito,
Mal têm a própria voz;
E ignora-os o infinito
Que nos ignora a nós.

Fernando Pessoa
Qualquer Música

Qualquer música, ah, qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!

Qualquer música - guitarra,
Viola, harmônio, realejo...
Um canto que se desgarra...
Um sonho em que nada vejo...

Qualquer coisa que não vida!
Jota, fado, a confusão
Da última dança vivida...
Que eu não sinta o coração!

Fernando Pessoa
Um dia triste, toda fragilidade incide, e o pensamento lá em você, e tudo me divide..
Marinha

Ditosos a quem acena
Um lenço de despedida !
São felizes : têm pena...
Eu sofro sem pena a vida.

Dôo-me até onde penso,
E a dor é já de pensar,
Órfão de um sonho suspenso
Pela maré a vazar... E sobe até mim, já farto
De improfícuas agonias,
No cais de onde nunca parto,
A maresia dos dias.

Fernando Pessoa
O Menino da Sua Mãe

NO PLAINO abandonado
Que a morta brisa aquece,
De balas traspassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

Fernando Pessoa
Ela canta, pobre ceifeira

Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.

Ah, canta, canta sem razão !
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando !

Ah, poder ser tu, sendo eu !
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso ! Ó céu !
Ó campo ! Ó canção ! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve !
Entrai por mim dentro ! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve !
Depois, levando-me, passai !

Fernando Pessoa
Ao longe, ao luar

Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela ?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.

Que angústia me enlaça ?
Que amor não se explica ?
É a vela que passa
Na noite que fica.

Fernando Pessoa
Dorme sobre o meu seio

Dorme sobre o meu seio,
Sonhando de sonhar...
No teu olhar eu leio
Um lúbrico vagar.
Dorme no sonho de existir
E na ilusão de amar.
Tudo é nada, e tudo
Um sonho finge ser.
O 'spaço negro é mudo.
Dorme, e, ao adormecer,
Saibas do coração sorrir
Sorrisos de esquecer.

Dorme sobre o meu seio,
Sem mágoa nem amor...

No teu olhar eu leio
O íntimo torpor
De quem conhece o nada-ser
De vida e gozo e dor.
Fernando Pessoa
Manhã dos outros!

Manhã dos outros! Ó sol que dás confiança
Só a quem já confia!
É só à dormente, e não à morta, sperança
Que acorda o teu dia.

A quem sonha de dia e sonha de noite, sabendo
Todo o sonho vão,
Mas sonha sempre, só para sentir-se vivendo
E a ter coração.

A esses raias sem o dia que trazes, ou somente
Como alguém que vem
Pela rua, invisível ao nosso olhar consciente,
Por não ser-nos ninguém.

Fernando Pessoa
Djavan - Nem um dia

Um dia frio
Um bom lugar pra ler um livro
E o pensamento lá em você,
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você,
E tudo me divide

Longe da felicidade
E todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo,
És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza
Dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia,
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você.

E tudo nascerá mais belo,
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris.
A música é capaz de reproduzir em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria"
Ludwig van Beethoven (1770-1827)

08/11/2007

Mago de Oz - Desde Mi Cielo

Ahora que está todo en silencio
Y que la calma me besa el corazón
Os quiero decir adiós
Porque ha llegado la hora
De que andéis el camino ya sin mi,
Hay tanto por lo que vivir
No llores cielo y vuélvete a enamorar
Me gustaría volver a verte sonreír

Pero mi vida
Yo nunca podré olvidarte
Y sólo el viento sabe
Lo que has sufrido por amarme
Hay tantas cosas
Que nunca te dije en vida
Que eres todo cuanto amo
Y ahora que ya no estoy junto a ti
Te cuidaré desde aquí

Sé que la culpa os acosa
Y os susurra al oído: "pude hacer más"
No hay nada que reprochar
Ya no hay demonios
En el fondo del cristal
Y sólo bebo todos los besos
Que no te di

Pero mi vida
Yo nunca podré olvidarte
Y sólo el viento sabe
Lo que has sufrido por amarme
Hay tantas cosas
Que nunca te dije en vida
Que eres todo cuanto amo
Y ahora que ya no estoy junto a ti
Vivo cada vez que habláis de mi
Y muero otra vez si lloráis
He aprendido otra vez a disfrutar
Y soy feliz

No llores cielo
Y vuélvete a enamorar
Nunca me olvides
Me tengo que marchar

Pero mi vida
Yo nunca podré olvidarte
Y sólo el viento sabe
Lo que has sufrido por amarme
Hay tantas cosas
Que nunca te dije en vida
Que eres todo cuanto amo
Y ahora que ya no estoy junto a ti
Desde mi cielo
Os arroparé en la noche
Y os acunaré en los sueños
Y espantaré todos los miedos,
Desde mi cielo
Os esperaré escribiendo
No estoy solo pues me cuidan
La libertad y la esperanza
Yo nunca os olvidaré
Fernando pessoa - Trila na noite uma flauta

Trila na noite uma flauta. É algum
Pastor? Que importa? Perdida
Série de notas vaga e sem sentido nenhum.
Como a vida.

Sem nexo ou princípio ou fim ondeia
A ária alada.
Pbre ária fora de música e de voz, tão cheia
De não ser nada!

Não há nexo ou fio por que se lembre aquela
Ária, ao parar;
E já ao ouvi-la sofro a saudade dela
E o quando cessar.
Fernando Pessoa - Sol nulo dos dias vãos

Cheios de lida e de calma,
Aquece ao menos as mãos
A quem não entras na alma!

Que ao menos a mão, roçando
A mão que por ela passe,
Com externo calor brando
O frio da alma disfarce!

Senhor, já que a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem,
Dá-nos ao menos a força
De a não mostrar a ninguém!
Fernando Pessoa - Pobre velha música!

Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.

Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Fernando Pessoa - Leve, breve, suave,

Leve, breve, suave,
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia
O dia.
Escuto, e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.

Nunca, nunca em nada,
Raie a madrugada,
Ou 'splenda o dia, ou doure no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.
Fernando pessoa - Canção

Silfos ou gnomos tocam?...
Roçam nos pinheirais
Sombras e bafos leves
De ritmos musicais.

Ondulam como em voltas
De estradas não sei onde
Ou como alguém que entre árvores
Ora se mostra ou esconde.

Forma longínqua e incerta
Do que eu nunca terei...
Mal oiço e quase choro.
Por que choro não sei.

Tão tênue melodia
Que mal sei se ela existe
Ou se é só o crepúsculo,
Os pinhais e eu estar triste.

Mas cessa, como uma brisa
Esquece a forma aos seus ais;
E agora não há mais música
Do que a dos pinheirais.
Fernando Pessoa - Natal

Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
Fernando Pessoa - Onde pus a esperança

Onde pus a esperança, as rosas
Murcharam logo.
Na casa, onde fui habitar,
O jardim, que eu amei por ser
Ali o melhor lugar,
E por quem essa casa amei -
Decerto o achei,
E, quando o tive, sem razão para o ter

Onde pus a feição, secou
A fonte logo.
Da floresta, que fui buscar
Por essa fonte ali tecer
Seu canto de rezar -
Quando na sombra penetrei,
Só o lugar achei
Da fonte seca, inútil de se ter.

Para quê, pois, afeição, esperança,
Se tê-las sabe a não as ter?
Que as uso, a causa para as usar,
Se tê-las sabe a não as ter?
Crer ou amar -
Até à raiz, do peito onde alberguei
Tais sonhos e os gozei,
O vento arranque e leve onde quiser
E eu os não possa achar!
Fernando Pessoa - Intervalo
(Cancioneiro)

Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.
Fernando Pessoa - Soneto

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

(1917)
Fernando Pessoa - Chove ? Nenhuma chuva cai...

Chove ? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia ?

Onde é que chove, que eu o ouço ?
Onde é que é triste, ó claro céu ?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...

E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...

E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.

Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuro, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...

Quando é que serei de tua cor,
Do teu plácido e azul encanto,
Ó claro dia exterior,
Ó céu mais útil que o meu pranto?

04/11/2007

Baste a quem baste o que lhe basta o bastante de lhe bastar! A vida é breve, a alma é vasta; ter é tardar.

02/11/2007

Palavras de pórtico

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: Navegar é preciso; viver não é preciso.
Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casa com o que sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a prática e contribuir para evolução da humanidade.
É a forma que em mim tornou o misticismo da nossa Raça.


Esta nota solta, e não assinada,
foi publicada pela primeira vez,
na primeira edição deste volume
(Rio de Janeiro, GB, 23.03.1960)
O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles.
A primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira conforme vou citando, e cito por graus de simplicidade. Tem o intérprete que sentir simpatia pelo símbolo que se interpretar. A atitude cauta, a irônica, a deslocada – todas elas privam o intérprete da primeira condição para poder interpretar.
A segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criá-la. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se veja.
A terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, reconstrói noutro nível o símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia no exame dos símbolos, é o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está embaixo. Não poderá fazer isto se a simpatia não tiver lembrado essa relação, se a intuição a não tiver estabelecido. Então a inteligência, de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo poderá ser interpretado.
A quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese; e a compreensão uma vida. Assim certos símbolos não podem ser entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes.
A quinta é menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a graça, falando a outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros, que é o Conhecimento e Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a mesma da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.
Apontamento solto de FP, s.s.; não assinado.

26/10/2007

Lulu Santos - Apenas Mais Uma De Amor

Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Eu acho tão bonito
Isso de ser abstrato, baby
A beleza é mesmo tão fugaz

É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

20/10/2007

"Se você correu correu correu tanto, não chegou a lugar nenhum... babyyy oh baby, bem vindo ao século XXI"
Raul Seixas
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me, I'm not sleepy and there is no place I'm going to...
Bob Dylan
"O hoje é apenas um furo do futuro, por onde o passado começa a jorrar..."
Raul Seixas e Marcelo Nova

15/10/2007

(...) O Homem que destinou parte de sua vida a causa da paz, que amou o mundo e soube criar um dos sonhos mais belos da história, caiu desta maneira (baleado), vítima da violência inútil do século XX.
O futuro terminara.
Livro: O Jovem Lennon
Mago de Oz - Desde Mi Cielo

Ahora que está todo en silencio
Y que la calma me besa el corazón
Os quiero decir adiós
Porque ha llegado la hora
De que andéis el camino ya sin mi,
Hay tanto por lo que vivir
No llores cielo y vuélvete a enamorar
Me gustaría volver a verte sonreír

Pero mi vida
Yo nunca podré olvidarte
Y sólo el viento sabe
Lo que has sufrido por amarme
Hay tantas cosas
Que nunca te dije en vida
Que eres todo cuanto amo
Y ahora que ya no estoy junto a ti
Te cuidaré desde aquí

Sé que la culpa os acosa
Y os susurra al oído: "pude hacer más"
No hay nada que reprochar
Ya no hay demonios
En el fondo del cristal
Y sólo bebo todos los besos
Que no te di

Pero mi vida
Yo nunca podré olvidarte
Y sólo el viento sabe
Lo que has sufrido por amarme
Hay tantas cosas
Que nunca te dije en vida
Que eres todo cuanto amo
Y ahora que ya no estoy junto a ti
Vivo cada vez que habláis de mi
Y muero otra vez si lloráis
He aprendido otra vez a disfrutar
Y soy feliz

No llores cielo
Y vuélvete a enamorar
Nunca me olvides
Me tengo que marchar

Pero mi vida
Yo nunca podré olvidarte
Y sólo el viento sabe
Lo que has sufrido por amarme
Hay tantas cosas
Que nunca te dije en vida
Que eres todo cuanto amo
Y ahora que ya no estoy junto a ti
Desde mi cielo
Os arroparé en la noche
Y os acunaré en los sueños
Y espantaré todos los miedos,
Desde mi cielo
Os esperaré escribiendo
No estoy solo pues me cuidan
La libertad y la esperanza
Yo nunca os olvidaré

13/10/2007

Sonhando melodias e preces

(Hino de ação de graças a Deus por permitir Beethoven concluir seu trabalho.)

Compasso quaternário, molto adagio... sotto voce. Primeiro violino, semínimas... Dó central, sobe para Lá... compasso, Sol sobe para Dó, ligado... Fá. Clave de Dó - - pausa de 2 tempos...
(...)
O primeiro violino assume o tema, Clave de Dó, Dó para Lá e crescendo, ganhando força... Daí, a luta. Primeiro violino Dá... sobe uma oitava e vai para o Sol, e o Cello desce, bem grave, mínimas, Fá, Mi, Ré sempre para o grave. E depois, uma voz, uma única voz delicada pairando acima da pauta. A luta continua, movimenta-se sob a superfície crescendo, o primeiro violino roga a Deus, e então, Deus responde... as nuvens se abrem, mãos amorosas se estendem para baixo e se elevam aos céus. O Cello fica preso a terra, mas outras vozes se elevam, suspensas... Por um instante no qual pode se viver para sempre... A terra não existe, o tempo é esterno, e as mãos que nos elevam, acariciam nosso rosto, moldam-nos à semelhança de Deus, e você fica em harmonia, está em paz, está livre afinal.

(Filme: O Segredo de Beethoven)
No concerto, antes de subirao palco para estreia de sua 9ª sinfonia:
"- Todos pensam que eu vivo no silêncio... não é verdade. Em minha mente, há uma constante abundância de sons... e nunca para. Deus enxe minha mente com música, e aí faz o que? Ele me deixa surdo e me nega o prazer que dá aos outros: ouvir minha obra, isso é um Deus amoroso? Isso é um amigo?"

Em cima do palco:
"Hoje a música mudará para sempre."

Beethoven
"Música é o idioma de Deus, os músicos sã mos que mais se proximam de Deus, nós ouvimos a sua voz, lemos os seus lábios, n´s damos a luz aos filhos de Deus que o glorificam... os músicos são assim, se não formos assim, não somos nada"
Beethoven
"As vibrações no ar são o sopro de Deus, falando à alma dos homens..."
Beethoven
"A solidão é minha religião."
Beethoven
"Eu sou tudo que é, foi e será, nenhum mortal nunca levantou meu véo."
Beethoven

29/09/2007

Victor Jara - La plegaria a un labrador

Levántate y mira la montaña,
de donde viene el viento, el sol y el agua.
Tú, que manejas el curso de los ríos,
tú, que sembraste el vuelo de tu alma.

Levántate y mírate las manos.
Para crecer estréchala a tu hermano,
juntos iremos unidos en la sangre.
Hoy es el tiempo que puede ser mañana.

Líbranos de aquél que nos domina en la miseria.
Tráenos tu reino de justicia e igualdad.
Sopla como el viento la flor de la quebrada.
Limpia como el fuego el cañón de mi fusil.

Hágase por fin tu voluntad aquí en la tierra.
Danos tu fuerza y tu valor al combatir.
Sopla como el viento la flor de la quebrada.
Limpia como el fuego el cañón de mi fusil.

Levántate y mírate las manos.
Para crecer estréchala a tu hermano,
juntos iremos unidos en la sangre,
ahora y en la hora de nuestra muerte.
Amén. Amén. Amén.

23/09/2007

"Crio-te vivo e morto te pranteio..."
Fagundes Varela
"Se Shakespeare vivesse hoje em dia, recusaria escrever para um mundo que deu as costas à verdade."
John Lennon
Operário em Construção

Era ele que erguia casas
Onde antes so' havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Nao sabia por exemplo
Que a casa de um homem e' um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa quer ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pa', cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com sour e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento

Alem uma igreja, à frente
Um quatel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Nao fosse eventuialmente
Um operário em contrucão.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
`A mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma subita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operario em construção.
Olhou em torno: a gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Nao sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua propria mao
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que nao havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu tambem o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele nao cresceu em vão
Pois alem do que sabia
- Excercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edificio em construção
Que sempre dizia "sim"
Comecam a dizer "não"
E aprendeu a notar coisas
A que nao dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uisque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pes andarilhjos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução

Como era de se esperar
As bocas da delação
Comecaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão
Mas o patrão nao queria
Nenhuma preocupação.
- "Convencam-no" do contrário
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isto sorria.

Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se subito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado
Sua primeira agressão
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vao sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Porem, por imprescindivel
Ao edificio em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Nao dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobra-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que ver
Sera' teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário
Que olhava e refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Nao ves o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Nao podes dar-me o que e' meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martirios
Um silêncio de prisão.
Um siêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silencio apavorado
Com o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arratarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão
Uma esperanca sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razao porem que fizera
Em operário construido
O operário em construção

Vinícios de Morais
Fagundes Varela - Cântico do Calvário

À Memória de Meu Filho
Morto a ll de Dezembro de 1863 com 3 meses de vida.

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!

Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!
Correi! Um dia vos verei mais belas
Que os diamantes de Ofir e de Golgonda
Fulgurar na coroa de martírios
Que me circunda a fronte cismadora!
São mortos para mim da noite os fachos,
Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas,
E à vossa luz caminharei nos ermos!
Estrelas do sofrer, — gotas de mágoa,
Brando orvalho do céu! — Sede benditas!
Oh! filho de minh'alma! Última rosa
Que neste solo ingrato vicejava!
Minha esperança amargamente doce!
Quando as garças vierem do ocidente
Buscando um novo clima onde pousarem,
Não mais te embalarei sobre os joelhos,
Nem de teus olhos no cerúleo brilho
Acharei um consolo a meus tormentos!
Não mais invocarei a musa errante
Nesses retiros onde cada folha
Era um polido espelho de esmeralda
Que refletia os fugitivos quadros
Dos suspirados tempos que se foram!
Não mais perdido em vaporosas cismas
Escutarei ao pôr do sol, nas serras,
Vibrar a trompa sonorosa e leda
Do caçador que aos lares se recolhe!

Não mais! A areia tem corrido, e o livro
De minha infanda história está completo!
Pouco tenho de anciar! Um passo ainda
E o fruto de meus dias, negro, podre,
Do galho eivado rolará por terra!
Ainda um treno, e o vendaval sem freio
Ao soprar quebrará a última fibra
Da lira infausta que nas mãos sustento!
Tornei-me o eco das tristezas todas
Que entre os homens achei! O lago escuro
Onde ao clarão dos fogos da tormenta
Miram-se as larvas fúnebres do estrago!
Por toda a parte em que arrastei meu manto
Deixei um traço fundo de agonias! ...

Oh! quantas horas não gastei, sentado
Sobre as costas bravias do Oceano,
Esperando que a vida se esvaísse
Como um floco de espuma, ou como o friso
Que deixa n'água o lenho do barqueiro!
Quantos momentos de loucura e febre
Não consumi perdido nos desertos,
Escutando os rumores das florestas,
E procurando nessas vozes torvas
Distinguir o meu cântico de morte!
Quantas noites de angústias e delírios
Não velei, entre as sombras espreitando
A passagem veloz do gênio horrendo
Que o mundo abate ao galopar infrene
Do selvagem corcel? ... E tudo embalde!
A vida parecia ardente e douda
Agarrar-se a meu ser! ... E tu tão jovem,
Tão puro ainda, ainda n'alvorada,
Ave banhada em mares de esperança,

Rosa em botão, crisálida entre luzes,
Foste o escolhido na tremenda ceifa!
Ah! quando a vez primeira em meus cabelos
Senti bater teu hálito suave;
Quando em meus braços te cerrei, ouvindo
Pulsar-te o coração divino ainda;
Quando fitei teus olhos sossegados,
Abismos de inocência e de candura,
E baixo e a medo murmurei: meu filho!
Meu filho! frase imensa, inexplicável,
Grata como o chorar de Madalena
Aos pés do Redentor ... ah! pelas fibras
Senti rugir o vento incendiado
Desse amor infinito que eterniza
O consórcio dos orbes que se enredam
Dos mistérios do ser na teia augusta!
Que prende o céu à terra e a terra aos anjos!
Que se expande em torrentes inefáveis
Do seio imaculado de Maria!
Cegou-me tanta luz! Errei, fui homem!
E de meu erro a punição cruenta
Na mesma glória que elevou-me aos astros,
Chorando aos pés da cruz, hoje padeço!

O som da orquestra, o retumbar dos bronzes,
A voz mentida de rafeiros bardos,
Torpe alegria que circunda os berços
Quando a opulência doura-lhes as bordas,
Não te saudaram ao sorrir primeiro,
Clícía mimosa rebentada à sombra!
Mas ah! se pompas, esplendor faltaram-te,
Tiveste mais que os príncipes da terra!
Templos, altares de afeição sem termos!
Mundos de sentimento e de magia!
Cantos ditados pelo próprio Deus!
Oh! quantos reis que a humanidade aviltam,
E o gênio esmagam dos soberbos tronos,
Trocariam a púrpura romana
Por um verso, uma nota, um som apenas
Dos fecundos poemas que inspiraste!

Que belos sonhos! Que ilusões benditas!
Do cantor infeliz lançaste à vida,
Arco-íris de amor! Luz da aliança,
Calma e fulgente em meio da tormenta!
Do exílio escuro a cítara chorosa
Surgiu de novo e às virações errantes
Lançou dilúvios de harmonias! — O gozo
Ao pranto sucedeu. As férreas horas
Em desejos alados se mudaram.
Noites fugiam, madrugadas vinham,
Mas sepultado num prazer profundo
Não te deixava o berço descuidoso,
Nem de teu rosto meu olhar tirava,
Nem de outros sonhos que dos teus vivia!

Como eras lindo! Nas rosadas faces
Tinhas ainda o tépido vestígio
Dos beijos divinais, — nos olhos langues
Brilhava o brando raio que acendera
A bênção do Senhor quando o deixaste!
Sobre o teu corpo a chusma dos anjinhos,
Filhos do éter e da luz, voavam,
Riam-se alegres, das caçoilas níveas
Celeste aroma te vertendo ao corpo!
E eu dizia comigo: — teu destino
Será mais belo que o cantar das fadas
Que dançam no arrebol, — mais triunfante
Que o sol nascente derribando ao nada
Muralhas de negrume! ... Irás tão alto
Como o pássaro-rei do Novo Mundo!

Ai! doudo sonho! ... Uma estação passou-se,
E tantas glórias, tão risonhos planos
Desfizeram-se em pó! O gênio escuro
Abrasou com seu facho ensangüentado
Meus soberbos castelos. A desgraça
Sentou-se em meu solar, e a soberana
Dos sinistros impérios de além-mundo
Com seu dedo real selou-te a fronte!
Inda te vejo pelas noites minhas,
Em meus dias sem luz vejo-te ainda,
Creio-te vivo, e morto te pranteio! ...

Ouço o tanger monótono dos sinos,
E cada vibração contar parece
As ilusões que murcham-se contigo!
Escuto em meio de confusas vozes,
Cheias de frases pueris, estultas,
O linho mortuário que retalham
Para envolver teu corpo! Vejo esparsas
Saudades e perpétuas, — sinto o aroma
Do incenso das igrejas, — ouço os cantos
Dos ministros de Deus que me repetem
Que não és mais da terra!... E choro embalde.

Mas não! Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
No vulto solitário de uma estrela,
E são teus raios que meu estro aquecem!
Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!
Brilha e fulgura no azulado manto,
Mas não te arrojes, lágrima da noite,
Nas ondas nebulosas do ocidente!
Brilha e fulgura! Quando a morte fria
Sobre mim sacudir o pó das asas,
Escada de Jacó serão teus raios
Por onde asinha subirá minh'alma.
Eric Clapton - Tears In Heaven (tradução)
(Eric Clapton; Will Jennings)

Você saberia meu nome se eu lhe visse no paraíso .
isso seria o mesmo se eu lhe visse no paraíso?
eu preciso ser forte e ir em frente
pois eu sei não estarei por muito tempo aqui no paraíso.
você seguraria minha mão, se eu lhe visse no paraíso.
voce me ajudaria a ficar em pé se eu lhe visse no paraíso.
eu vou encontrar meu caminho através da noite e do dia
pois eu sei eu não posso ficar aqui no paraíso

o tempo pode lhe trazer
o tempo pode dobrar seus joelhos,
o tempo pode quebrar seu coração,
voce ja começou, por favor comece.

do outro lado da porta á paz, e eu tenho certeza,
eu sei não haverá mais lagrimas no paraíso.
Você saberia meu nome se eu lhe visse no paraíso .
isso seria o mesmo se eu lhe visse no paraíso.
eu preciso ser forte e ir em frente
pois eu sei não estarei por muito tempo aqui no paraíso,
eu sei não estarei por muito tempo aqui no paraíso.
Se Eu Morresse Amanhã!

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que dove n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

Alvares de Azevedo
(...)
Junto a meu leito, com as mãos unidas,
Olhos fitos no céu, cabelos soltos,
Pálida sombra de mulher formosa
Entre nuvens azuis pranteia orando.
É um retrato talvez. Naquele seio
Porventura sonhei douradas noites,
Talvez sonhando desatei sorrindo
Alguma vez nos ombros perfumados
Esses cabelos negros e em delíquio
Nos lábios dela suspirei tremendo,
Foi-se a minha visão... E resta agora
Aquele vaga sombra na parede
— Fantasma de carvão e pó cerúleo! —
Tão vaga, tão extinta e fumacenta
Como de um sonho o recordar incerto.
...
Alvares de Azevedo


Legião Urbana - A Tempestade

Será que sou capaz
De enfrentar o seu amor?
Que me traz insegurança
E verdade demais
Será que eu sou capaz?
Veja bem quem eu sou
Com teu amor eu quero que sintas dor
Eu quero ver-te em sangue e ser teu credor
Veja bem quem eu sou
Trouxe flores mortas para ti
Quero rasgar-te e ver o sangue manchar
Toda a pureza que vem do teu olhar
Eu não sei mais sentir.

The Beatles - Help! (tradução)

Socorro! Eu preciso de alguém
Socorro! Não apenas qualquer um
Socorro! Você sabe, eu preciso de alguém
Socorro!

Quando eu era jovem, mais jovem do que hoje
Eu nunca precisei da ajuda de ninguém de maneira
alguma
E agora aqueles dias se foram
Eu não estou tão seguro
Agora eu encontrei, eu mudei minha mente
Eu abri as portas

Me ajude se você pode, eu estou me sentindo pra baixo
E eu aprecio você estando por perto
Me ajude por meus pés de volta no chão
Por favor, você não me ajudará? Por favor, me ajude?

E agora minha vida mudou em oh muitas coisas
Minha independência parece desaparecer na neblina
Mas tudo agora e então Eu me sinto muito inseguro
Eu sei que eu só preciso de você
Como eu nunca precisei antes

Me ajude se você pode, eu estou me sentindo pra baixo
E eu aprecio você estando por perto
Me ajude por meus pés de volta no chão
Por favor, você não me ajudará? Por favor, me ajude?

Quando eu era jovem, mais jovem do que hoje
Eu nunca precisei da ajuda de ninguém de maneira
alguma
E agora aqueles dias se foram
Eu não estou tão seguro
Agora eu encontrei, eu mudei minha mente
Eu abri as portas

Me ajude se você pode, eu estou me sentindo pra baixo
E eu aprecio você estando por perto
Me ajude por meus pés de volta no chão
Por favor, você não me ajudará? Por favor, me ajude?

Me ajude se você pode, eu estou me sentindo pra baixo
E eu aprecio você estando por perto
Me ajude por meus pés de volta no chão
Por favor, você não me ajudará? Por favor, me ajude?

Por favor me ajude, me ajude
(...)
Você nunca ouviu falar em maldição
Nunca viu um milagre
Nunca chorou sozinha num banheiro sujo
Nem quis ver a face de Deus

Já frequentei grandes festas
Nos endereços mais quentes
Tomei champanhe e cicuta
Com comentários inteligentes
Mais tristes que os de uma puta
No Barbarella as 15 pras 7

Você Já Reparou como os velhos
Vão perdendo a esperança
Com seus bichinhos de estimação e plantas?
Já viveram tudo
E sabem que a vida é bela

Você Reparou na inocência
Cruel das criancinhas
Com seus comentários desconcertantes?
Elas Adivinham tudo
E sabem como a vida é bela
...
Cazuza / Roberto Frejat
Cazuza - Down Em Mim
(Frejat/Cazuza )

Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
À versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou me esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar, sorrindo, que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Down... down
Fagundes Varela - Amor e Vinho

Cantemos o amor e o vinho,
As mulheres, o prazer;
A vida é sonho ligeiro
Gozemos até morrer
Tim, tim, tim
Gozemos até morrer

A ventura nessa vida
É sonho que pouco dura
Tudo fenece no mundo,
Na louça da sepultura
Tim, tim, tim
Na louça da sepultura

Não sou desses gênios duros,
Inimigos do prazer,
Que julgam que a humanidade
Só nasceu para morrer
Tim, tim, tim
Só nasceu para morrer

22/09/2007

PARALAMAS - SELVAGEM
(Bi Ribeiro - João Barone - Herbert Vianna)

A polícia apresenta suas armas
Escudos transparentes, cassetetes
Capacetes reluzentes
E a determinação de manter tudo
Em seu lugar

O governo apresenta suas armas
Discurso reticente, novidade inconsistente
E a liberdade cai por terra
Aos pés de um filme de Godard

A cidade apresenta suas armas
Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos
E o espanto está nos olhos de quem vê
O grande monstro a se criar

Os negros apresentam suas armas
As costas marcadas, as mãos calejadas
E a esperteza que só tem que tá
Cansado de apanhar
"Porque ainda é de noite no dia claro dessa noite."
Raul Seixas
Legião Urbana - Clarisse

Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e
descartado
Quem diz que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das
lembranças
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move,
não trabalha.
E Clarisse está trancada no banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente
Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente
Nada existe pra mim, não tente
Você não sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem
mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O medo de voltar pra casa à noite
Os homens que se esfregam nojentos
No caminho de ida e volta da escola
A falta de esperança e o tormento
De saber que nada é justo e pouco é certo
E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada em seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho
mais bonito
E Clarisse só tem 14 anos...

09/09/2007

"Quando os que mandão perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito."

25/08/2007

Amor

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Álvares de Azevedo

Adeus, meus sonhos!

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

Álvares de Azevedo
Adeus, meus sonhos!

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!
Álvares de Azevedo
Ai, Jesus!

Ai, Jesus! Não vês que gemo,
Que desmaio de paixão
Pelos teus olhos azuis?
Que empalideço, que tremo,
Que me expira o coração?
Ai, Jesus! Que por um olhar, donzela,
Eu poderia morrer
Dos teus olhos pela luz?
Que morte! Que morte bela!
Antes seria viver!
Ai, Jesus! Que por um beijo perdido
Eu de gozo morreria
Em teus níveos seios nus?
Que no oceano dum gemido
Minh'alma se afogaria? Ai, Jesus!
Álvares de Azevedo

12/08/2007

(..) de vilanias tão cumulado pela natureza a fortuna sorria-lhe a diabólica empreitada como rameira de soldado, tudo debalde pois Macbeth (merece o nome) zombando da fortunia e com a brandida espada fumegante da sangrenta carnificina, abre passagem como o favorito do valor e enfrenta o miserável (...)

è preciso paz, é possível paz até mesmo porque, tudo é a gente mesmo que faz...
Por baixo do sono lodoso da verdade existem consoladores de mentiras que fazem em seu conjunto a mágica da vida....
Que enorme tédio seria a vida se essa gente tivesse razão de ter só razão...
"A vida só é possível reiventada, sem as cores da poesia, o tempero do humor, a melodia da criatividade, o perfume da fantasia e a maciez dos sonhos, o que é a vida?"
Cicilia Meireles
"Triste são as coisas consideradas sem ênfase."
Drumond

11/08/2007

Cântico negro



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio
, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

José Régio

Caetano Veloso - Mora Na Filosofia

Eu vou lhe dar a decisão

Botei na balança e você não pesou

Botei na peneira e você não passou

Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor

Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor

 

Se seu corpo ficasse marcado

Por lábios ou mãos carinhosas

Eu saberia ora, vai mulher

A quantos você pertencia

Não vou me preocupar em ver

Seu caso não é de ver pra crer

Tá na cara!

"Qualquer dedução ou afirmação é passível de réplicas !"
"A desobediência é uma virtude necessária à criatividade."
Raul Seixas
Elis Regina - Vou deitar e Rolar
 
Não venha querer me consolar
Que agora não dá mais pé
Nem nunca mais vai dar
Também quem mandou se levantar
Quem levantou pra sair
Perde o lugar
 
E agora, cadê teu novo amor
Cadê que ele nunca funcionou
Cadê que nada resolveu
 
Quaquaraquaquá, quem riu
Quaquaraquaquá, fui eu
Quaquaraquaquá, quem riu
Quaquaraquaquá, fui eu
 
Ainda sou mais eu
 
Você já entrou na de voltar
Agora fica na tua
Que é melhor ficar
Porque vai ser fogo me aturar
Quem cai na chuva
Só tem que se molhar
 
E agora cadê, cadê você
Cadê que eu não vejo mais, cadê
Pois é quem te viu e quem te vê
 
Todo mundo se admira da mancada que a Terezinha deu
Que deu na pira
E ficou sem nada ter de seu
Ela não quis fazer fé
Na virada da maré
Breque
 
Mas que malandro sou eu
Pra ficar dando colher de chá
Se eu não tiver colher, vou deitar e rolar
 
O vento que venta aqui
É o mesmo que venta lá
E volta pro mandingueiro
A mandinga de quem mandigá

05/08/2007

"A vida é como jogar uma bola na parede :

Se for jogada uma bola azul, ela voltará azul
Se for jogada uma bola verde, ela voltará verde;

Se a bola for jogada fraca, ela voltará fraca;
Se a bola for jogada com força, ela voltará com força.

Por isso, nunca "jogue uma bola na vida"

de forma que você não esteja pronto a
recebê-la.

A vida não dá nem empresta;
não se comove nem se apieda.

Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir
aquilo que nós lhe oferecemos"
 
Albert Einstein

25/07/2007

"Não faz da tua vida um rascunho, poderás não ter tempo para passar a limpo."

(Mario Quintana)

20/07/2007

Vingança de vida

A vida é uma escada
Como vai criar, fazer, ser?
Temer, ver, crer?
Subir, abrir, dividir? Como será?

Amar, sentir, acariciar?
Encontrar, cheirar, beijar?
Indagar, questionar, chamar?
Vivenciar, planejar, executar? Como será?

A vida é uma escada
Como vai sentir felicidade, amizade, fraternidade,
Como vai superar a hipocrisia, e uma pitada de ironia cotidiana?

Uma janela parnasiana
Um toque sutil, que se faz vingança tão vil
Na tal noite tão incompreensível

Seria minha vida, ou minha amada ninfa?

George H. S. Ruchlejmer (19/07/2007)
Mägo De Oz - Hazme un Sitio entre tu Piel

Si me ves, bésame,
hazme un sitio entre tu piel.

Voy buscando alguna voz en mí
que me ayude bien a discernir,
pues mi mente es un vestido que
me queda mal.

¿Cual ha sido, dónde está el error?
¿Quién me ha condenado al terror
de una mente en blanco y negro?

¿Dónde esta mi lugar?
No soy como los demás,
yo sé pensar!!
Estoy sólo y tengo miedo.

Si me ves, bésame,
hazme un sitio entre tu piel,
que los rasgos de mi cara
no te impidan ver mi ser.

Sentirás que mi amor
tiene sed de que una voz
me susurre una caricia
o me regale una ilusión.

Dame mimos, dame tu calor,
te los devolveré en forma de flor,
recibirás por cien, multiplicado
lo que me des.

Si me apartas, no me integraré.
Si me abandonas, yo me perderé.
El rechazo es mi condena.

¿Dónde esta, mi libertad?
buscaré un futuro para mí.
Me va a costar!!
pero sin amor no puedo.

Si me ves, bésame,
hazme un sitio entre tu piel,
que los rasgos de mi cara
no te impidan ver mi ser.

Sentirás que mi amor
tiene sed de que una voz
me susurre una caricia
o me regale una ilusión.

Y al final llegaré
donde me lleven los pies,
y si quieres conocerme,
no me observes, mírame.

¿Dónde estas, Libertad?
Mi celda es la soledad,
el silencio que no calla
es el vacío de tu voz.

Si me ves, bésame,
hazme un sitio entre piel...
Mägo De Oz - La Voz Perdida

Soy de un sitio, de un lugar,
de un tiempo que...
llaman eternidad,
y al viento, mi hogar.

Donde la realidad
la puedes cambiar
si sabes preguntar
y no das nada por hecho.

¿A qué sabe el dolor?
¿Es eterno el amor?
¿La amargura es mujer?
¿De qué están hechos los sueños?

¿Cuánto pesa un adiós?
¿Por qué es muda la Paz?
¿Puede dormir la traición?
Pregúntate!!!

Y verás que mi voz
vive en ti, soy La Voz Dormida
de los que el Santo Oficio
consiguió callar.

Si me quieres seguir,
volaremos sobre el arco iris,
donde mueren las penas
y nacen los besos en flor.
Mi voz vive en ti!!!

He visto Roma caer,
y a Egipto morir,
y a Jesús de Nazaret,
expirar sin saber

que en su nombre iba a nacer
una secta de poder,
traficantes de ilusión,
mercaderes de almas rotas.

¿Por qué es sorda la fe?
¿y ciego el que cree?
¿Sabe un rezo besar?
¿Cuánto cobra el celibato?

¿Está en venta el altar?
¿o lo alquiláis
para uso de un dictador?
en uno Hitler folló!!

Y verás que mi voz
vive en ti, soy La Voz Dormida
de los que el Santo Oficio
consiguió callar.

Si me quieres seguir,
volaremos sobre el arco iris,
donde mueren las penas
y nacen los besos en flor.
Mi voz vive en ti !!!

He bajado hasta tu infierno,
y a tus miedos pregunté
¿dónde viven los fracasos?
y si aceptan un talón.

He subido hasta su cielo,
su Dios no me recibió,
a su derecha esta Franco
y entre los dos hay un hueco
para Pinochet.

Y verás que yo soy La Voz Dormida,
sígueme, mi voz vive en ti !!!

Y verás que mi voz
vive en ti, soy La Voz Dormida
de los que el Santo Oficio
consiguió callar.

Si me quieres seguir,
volaremos sobre el arco iris,
donde mueren las penas
y nacen los besos en flor.
Mi voz vive en ti !!!

He ardido en mil hogueras,
me violaron en Perú,
he vivido el holocausto,
la inquisición, apartheid,
dictaduras, poder, pederastia,
la marca del Diablo es la Cruz