17/02/2010

Somos os mesmos, os mesmos que desde o início dos tempos buscam, além dos gestos criadores que felizmente existem, a diversão, o prazer imediato e fácil, o poder, a posse, jogando dados sobre a superfície de um mundo incansável que dá sinais de cansaço. Ao entrarmos nesta vida nova por um novo oráculo de Trofônios1, esquecemos das divisões estanques da vida passada e renascemos com um riso, combinando opostos numa realidade terceira que exponencialmente se desdobra num contexto estranho, mas possível, no qual convivem as coisas que já convivem no mundo, ainda que mutuamente se estranhem. Bebamos da água da Mnemosyne e da Léthe, para esquecer de quem fomos e lembrarmos de quem somos, ou o revés, ou melhor, e o revés, pois os sentidos avessos compartilham o mesmo espaço-tempo.
Revista Mnemozine -
(1) Oráculo Trofônios:

Nos dias de hoje, ainda se pode encontrar na cidade grega de Lebadeia, uma gruta a que chamam "O Antro de Trofonios" e onde antigamente se praticava um ritual oracular bastante curioso:
O consultante purificava-se durante um determinado nº de dias, para isso alojava-se num edificio próprio para o efeito, em seguida lavava-se sozinho no rio Ercina e oferecia sacrificios a Trofonios, à Deusa Deménter e outras divindades. O consultante durante este periodo só podia alimentar-se de carne sagrada dos carneiros sacrificados.
No momento de consultar o oráculo, o consultante era conduzido ao rio, onde duas jovens de treze anos o lavavam e ungiam com óleo sagrado. Depois o consultante bebia água da fonte de Letes, cujas propriedades mágicas o ajudavam a esquecer o seu passado e depois bebia água da fonte Mnemósina, para que pudesse recordar o que tinha visto ou ouvido durante a consulta. O consultante vestia uma tunica de linho e entrava na gruta levando um pão de centeio ensopado em mel.
No fundo da gruta encontrava um buraco onde tinha de colocar as pernas. Ao fazer isto, sentia um puxão nos tornozelos e depois recebia uma pancada na nuca e uma voz começava a falar-lhe, onde lhe revelava o futuro e outras coisas.
Quando a voz se extinguia, o consultante era levado e sentado no trono da memória, onde um sacerdote pedia-lhe que repetisse tudo aquilo que ouviu para que pudesse explicar ao consultante o significado dessas palavras.
Segundo reatos do escritor grego Pausânias, o Génio Bom que revelava estas previsões na gruta de Trofonios, tinha a forma de serpente e dava respostas em troca do pão de centeio e do mel.
Felizmente que hoje, o processo de consulta é bem menos violento para o consultante, sendo que a parte do mel até que nem é má de todo :-) Para quem gosta de mel claro, com um chá e umas bolachinhas :-)

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